Pô, mas de novo?, você pergunta.
Sim, de novo, eu respondo. Pois é. Estão meio que banalizando a data.
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Aproveitando o ensejo, vou expor e comentar algumas teses soltas sobre a data, teses bem ao estilo daquelas teses de mesa de bar: imprecisas, preconceituosas e balbuciadas por lábios anestesiados pelo álcool.
Tese #1
O #lingerieday não é uma oportunidade para quebrar tabus e desafiar os preconceitos vigentes.
É e não é. Algumas mulheres usam um avatar com lingerie para dar uma sacudida no coreto da moral-e dos-bons-costumes-burgueses e tal, mas o que a maioria das despidas faz mesmo é surfar nas ondas do mainstream.
É a rebeldia pela rebeldia, o que é agravado pelo fato de essa rebeldia ter deixado de ser rebeldia há muito tempo. Hoje (e eu falo "hoje" no sentido de "hoje, dia 28/07/2010, #lingerieday"), o establishment está usando calcinha rendada. Se você acha que está sendo revolucionária por postar uma foto sua de cinta-liga, saiba que você está pelo menos 40 anos atrasada, minha filha. Revolucionárias dignas do nome foram as suas avós e sua mãe, que inventaram isso tudo e sofreram muito pra que esses costumes fossem considerados aceitáveis hoje.
Tese #2
O #lingerieday é um vórtice que distorce as noções de espaço, tempo e relevância em mídias sociais
Imagine uma mulher gostosa. Uma potranca. Não, não tô falando da Ana Hickman. Tô falando de quadris, hombre! Bunda, coxas, peitões, carne pra você mergulhar e se fartar. Imagine que ela se chame, por exemplo, @CasadeLoulou.
Pois bem, essa gostosa hipotética acha que é relevante. No #lingerieday, ela é mesmo. Todo mundo interage com ela, todo mundo a segue no Twitter, revistas e jornais publicam fotos suas ao se referir ao evento, todos os punheteiros com conta no Twitter pagam a ela tributos gosmentos, ela se diverte respondendo aos estímulos dos que querem ver mais uma foto provocante e até se inflama em discursos contra as feias moralistas que a criticam. Num ponto ela tem razão: é insuportável ver como as feias adoram criticar gostosas que fazem sucesso pela gostosura. Não só as feias, mas também os soi disant especialistas em mídias sociais.
Horas antes do #lingerieday, a nossa gostosa hipotética se diz nervosa e tuíta compulsivamente, mandando teasers e enchendo de excitantes promessas as timelines dos seus seguidores. Ela obviamente superdimensiona o evento. Ou melhor, não superdimensiona. O #lingerieday é mesmo um dos pontos altos da sua vida.
Toda a sua relevância na internet se deve às fotos em que aparece seminua. É graças a essas fotos seminua que ela tem tantos seguidores, é graças a sua performance como femme fatale que todos os probloggers "relevantes" pagam pau pra ela e fazem com que ela pense que é um deles... Então (hipoteticamente, é claro), ela começa a pensar que nasceu pra brilhar e decide ampliar sua já notória relevância criando o seu próprio blog, para fazer sucesso por atributos menos anatômicos e mais... espirituais. O blog não dá certo, é claro. E chegamos à triste verdade: na vida real, ela é uma mulher digna e amorosa e gentil e trabalhadora e obstinada e tal. Mas para a internet, ela é só uma bunda.
Tese #3
A cibercultura é linda, mas peitões são mais lindos ainda
Não me venham com esse papinho palha de que o #lingerieday é fruto de uma cultura libertária e blá blá blá. Show me your panties bitch!
O sucesso do evento se deve a algo bem simples: sexo vende, sexo atrai, sexo motiva, sexo congrega, sexo divide, sexo é poderoso. Fotos de peitos e bundas SEMPRE serão relevantes porque mexem com instintos animais que sempre precedem (e às vezes superam) qualquer verniz de cultura.
No mercado das trocas simbólicas (e materiais), um belo corpo é uma moeda valiosíssima. Que o digam as putas freelancer que anunciam seus serviços na Web e faturam R$ 200 por hora de trabalho. Você ganha 200 reais por hora trabalhando, leitor? Pois é, nem eu.
Por essas e por outras é que as divas do #lingerieday fazem tanto sucesso - mesmo em dias normais. Se você é mulher, experimente usar como avatar uma foto em que apareça um peitão (mesmo que não seja o seu) e veja quantos seguidores você conseguirá a mais por dia.
Faça uma triagem na sua timeline no dia do #lingerieday (sei do pleonasmo de novo, porra!) e conte quantos perfis de empresas e de abutres probloggers já estão sabendo explorar a data comercialmente.É empresa oferecendo calcinhas de presente em troca de RT, revista recrutando cases, blogueiro fazendo top team pra ganhar acessos e cliques, etc. O capitalismo encampou o #lingerieday.
Tese #4
A @richelinha é linda demais:
P.S: Para ver o que de melhor (ou pior) a natureza produziu, acesse
- TBOLD
P.S. 2: Texto publicado em 2010, num blog que renasceu das suas próprias cinzas.
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