quinta-feira, 2 de junho de 2011

O melhor, o pior e o mais ou menos do #lingerieday






E estamos no #lingerieday, eu digo.

Pô, mas de novo?, você pergunta.

Sim, de novo, eu respondo. Pois é. Estão meio que banalizando a data.

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Ah, você passou os últimos dois anos hibernando numa câmara criogênica e não sabe o que diabos é #lingerieday? É uma “tradição” do Twitter, de reservar um dia por ano (ou por semestre, ou, em breve, por semana, pq não?) para que as usuárias (e eventuais usuários) usem como avatar fotos em que apareçam usando lingerie. Delicioso, não? Tem gente que não acha.


Aproveitando o ensejo, vou expor e comentar algumas teses soltas sobre a data, teses bem ao estilo daquelas teses de mesa de bar: imprecisas, preconceituosas e balbuciadas por lábios anestesiados pelo álcool.



Tese #1
O #lingerieday não é uma oportunidade para quebrar tabus e desafiar os preconceitos vigentes.



É e não é. Algumas mulheres usam um avatar com lingerie para dar uma sacudida no coreto da moral-e dos-bons-costumes-burgueses e tal, mas o que a maioria das despidas faz mesmo é surfar nas ondas do mainstream.

É a rebeldia pela rebeldia, o que é agravado pelo fato de essa rebeldia ter deixado de ser rebeldia há muito tempo. Hoje (e eu falo "hoje" no sentido de "hoje, dia 28/07/2010, #lingerieday"), o establishment está usando calcinha rendada. Se você acha que está sendo revolucionária por postar uma foto sua de cinta-liga, saiba que você está pelo menos 40 anos atrasada, minha filha. Revolucionárias dignas do nome foram as suas avós e sua mãe, que inventaram isso tudo e sofreram muito pra que esses costumes fossem considerados aceitáveis hoje.








Tese #2
O #lingerieday é um vórtice que distorce as noções de espaço, tempo e relevância em mídias sociais



Imagine uma mulher gostosa. Uma potranca. Não, não tô falando da Ana Hickman. Tô falando de quadris, hombre! Bunda, coxas, peitões, carne pra você mergulhar e se fartar. Imagine que ela se chame, por exemplo, @CasadeLoulou.



Pois bem, essa gostosa hipotética acha que é relevante. No #lingerieday, ela é mesmo. Todo mundo interage com ela, todo mundo a segue no Twitter, revistas e jornais publicam fotos suas ao se referir ao evento, todos os punheteiros com conta no Twitter pagam a ela tributos gosmentos, ela se diverte respondendo aos estímulos dos que querem ver mais uma foto provocante e até se inflama em discursos contra as feias moralistas que a criticam. Num ponto ela tem razão: é insuportável ver como as feias adoram criticar gostosas que fazem sucesso pela gostosura. Não só as feias, mas também os soi disant especialistas em mídias sociais.



Horas antes do #lingerieday, a nossa gostosa hipotética se diz nervosa e tuíta compulsivamente, mandando teasers e enchendo de excitantes promessas as timelines dos seus seguidores. Ela obviamente superdimensiona o evento. Ou melhor, não superdimensiona. O #lingerieday é mesmo um dos pontos altos da sua vida.



Toda a sua relevância na internet se deve às fotos em que aparece seminua. É graças a essas fotos seminua que ela tem tantos seguidores, é graças a sua performance como femme fatale que todos os probloggers "relevantes" pagam pau pra ela e fazem com que ela pense que é um deles... Então (hipoteticamente, é claro), ela começa a pensar que nasceu pra brilhar e decide ampliar sua já notória relevância criando o seu próprio blog, para fazer sucesso por atributos menos anatômicos e mais... espirituais. O blog não dá certo, é claro. E chegamos à triste verdade: na vida real, ela é uma mulher digna e amorosa e gentil e trabalhadora e obstinada e tal. Mas para a internet, ela é só uma bunda.






Tese #3
A cibercultura é linda, mas peitões são mais lindos ainda

Não me venham com esse papinho palha de que o #lingerieday é fruto de uma cultura libertária e blá blá blá. Show me your panties bitch!



O sucesso do evento se deve a algo bem simples: sexo vende, sexo atrai, sexo motiva, sexo congrega, sexo divide, sexo é poderoso. Fotos de peitos e bundas SEMPRE serão relevantes porque mexem com instintos animais que sempre precedem (e às vezes superam) qualquer verniz de cultura.



No mercado das trocas simbólicas (e materiais), um belo corpo é uma moeda valiosíssima. Que o digam as putas freelancer que anunciam seus serviços na Web e faturam R$ 200 por hora de trabalho. Você ganha 200 reais por hora trabalhando, leitor? Pois é, nem eu.



Por essas e por outras é que as divas do #lingerieday fazem tanto sucesso - mesmo em dias normais. Se você é mulher, experimente usar como avatar uma foto em que apareça um peitão (mesmo que não seja o seu) e veja quantos seguidores você conseguirá a mais por dia.



Faça uma triagem na sua timeline no dia do #lingerieday (sei do pleonasmo de novo, porra!) e conte quantos perfis de empresas e de abutres probloggers já estão sabendo explorar a data comercialmente.É empresa oferecendo calcinhas de presente em troca de RT, revista recrutando cases, blogueiro fazendo top team pra ganhar acessos e cliques, etc. O capitalismo encampou o #lingerieday.



Tese #4
A @richelinha é linda demais:






P.S: Para ver o que de melhor (ou pior) a natureza produziu, acesse
- TBOLD


P.S. 2: Texto publicado em 2010, num blog que renasceu das suas próprias cinzas.

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